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Neverland
No ultimo feriado acordei disposto para uma bela cavalgada. Um amigo meu, Mauricio, também veterinário tinha comprado um sitio aqui em Porto Feliz.
Mauricio não é o exemplo numero um de modéstia. Disse-me todo pôse :- Emilio quando quiser dar uma volta a cavalo é só aparecer no meu rancho..Se eu não estiver fale pra um dos peões ( no plural;já senti firmeza) que você é meu amigo de faculdade, que ele sela um cavalo pra você. Fique a vontade sinta se em casa.E eu me senti.
No feriado acordei cedo e fui pro Mauricio`s Ranch. Ele havia me dito que era pertinho da cidade. Passei a ponte que cruza o Tiete, virei a esquerda liguei um som de Kenny Rogers e pau na maquina sentido Xiririca(que nome feio prum bairro) ! Passa 1, passam 2, passam 5, passam 8km de terra e nada.Ele não falou que era pertinho ? Bom, finalmente vislumbro a placa Mauricio Silva’s Ranch, ,uffa! Embaixo estava escrito, proprietário: Mauricio Silva ( não entendi a bilíngüe informação) mas tudo bem,vamos em frente.
Uma porteira capenga,estranhei., emperrada e arriada.Arrastei.Até ai tudo bem.Desço do carro sou recebido por dois cachorros “caçadô” latindo grosso...magros que doíam.Tudo bem,devia ser do antigo dono,vamos lá.Veio então uma senhora descabelada, vesga me receber .
Perguntei se algum dos peões estava. Ela disse:- ““Os dois tinham “saìdo fazê” compra na cidade, demoram pra” vortá”. Um moleque remelento fica ao seu lado me observando,
- Posso dar uma volta a cavalo?Sou amigo do Mauricio .-Fique a vontade moço, -“passano o chiquero fica os estalbu .Os cavalo taõ preso não. O senhor tem que pegá no pasto!Eu não posso ajudá,tenho sulitária na cabeça e o senhor sabe..”.
Percebi que tinha entrado numa fria.Era um mico este rancho do meu amigo.Mais uma das suas hiper-valorizações narcisistas de status. Estava desisitindo... mas era feriado...repensei..,vamos aproveitar.Carpe dien afinal de contas !
Corri,corri no pasto; coração saindo pela boca.Mas ai virou questão de honra.Na mão eu rodopiava e tentava laçar com uma corda ensebada grossa( tipo corda de poço ).Giro que giro, atiro que atiro o laço e nada.O moleque melequento que observava a cena, mijava de rir de mim.Vendo meu sofrimento gritou: - Dotô , porque o sinhô num pega uma espiga de milho no paió? O Hercules vem na não do sinhô!
Não deu outra. Peguei o Hercules. Pelo estilo, magreza e postura do bicho achei o nome Hercules um pouco “over “..Feito isto levei- o até o curral de varas de eucalipto . Tentei amarrar o cavalo numa vara, o moleque gritou: - Doutô ele estira !Deixa a corda sôrta!Entrei no paiol caindo aos pedaços e peguei um freio agua choca enferrujado, daqueles com a perna bem grande pra quebrar burro brabo.No meio dos sabugos de milho achei.uma cabeçada de couro que o rato já roeu e o tempo corroeu .Pronto. O que que falta ?
Ah, o baixeiro, Fucei, fucei e encontrei no chão algo que um dia foi um baixeiro cagado de bosta de galinha com um cachorro “mestiço burdogue” deitado em cima.Tirei a “ cama do cuitado e joguei no lombo do meu corcel.
Faltava ainda a sela.Fui até o “estalbu” como disse a “gerente vesga”e comecei a procurar Senti falta do meu GPS.
La em cima pendurado no telhado, numa forquilha de galho de arvore, cheio de teia de aranha vejo um arreio cutiano que devia ser do vô do Don Pedro I. Surrado, surrado, embora tivesse estilo. Tinha umas aplicações de latão e cobre trabalhado na cabeça.Tirei o pó com um toco que restou de uma vassoura de palha,e passei um pano de chão que molhei no coxo de água esverdeada.(aí começou a virar porquice total),
.Tirei os cocos de galinha com o que um dia foi uma rineta de casco. Faltavam os estribos.
Tinha um fio elétrico em cima da minha cabeça perto das telhas, que levava o nada à coisa alguma; cortei uns pedaços do fio e fiz o par de estribos, e loros. Para lático e contra lático usei aquelas cordinhas que amarram feno. Mas vamos que vamos!”Dentro deste espírito de” “Magaiver caipira” , coloquei o cutiano em cima do alazão ,apertei a barrigueira de 10 fios de nylon esgarçados.. Achei que dava pra encarar, afinal não iria participar de nenhuma olimpíada.
Minha montaria estava pronta para sair. De cima, vi que o Hercules tava lotado de carrapatos na orelha e a crina estava trançada pelo saci .Deixa pra lá .Procurei tanidil; não tinha,tentei tirar com a mão deu preguiça.
Vamos seguir viagem, vamos cavalgar? Vam’bora! .Inicio meu passeio. Aceno para o menino como que dizendo:- Viu?” Nóis é véio mas nóis é porreta.! “
De qualquer forma, me sentindo ridículo ou não, fui cavalgando, um trote duro que doía até a alma, a bunda doía e a perna esfregava no arreio ressecado. Começava a assar e doer também. Seguimos pela estrada de chão batido até a saída do “Haras Mauricio´s Ranch “.Que piada.Porteira fechada.Ai que saco ! Depois de tentar encostar o cavalo e abrir a porteira de cima sem apear, desisti.
Amarrei Hercules no mourão da porteira,desci e fui abrir.A porteira não fechava .Fiz tanta força que quebrou um pedaço de madeira que tava podre.Treeeect !!Num deu outra ( o moleque bem tinha avisado).
O bendito cavalo estirou. Voltou para o pasto com a maior cara de pau. De longe o eqüino me lançava um olhar de ligeiro deboche.
Bom ai foi demais Não existe saco nem cultura zen que resista .Decretei neste momento o fim do meu feriado no suposto belo rancho do meu grande amigo .
Fui pra casa assistir sessão da tarde; era o que me restava. A quem pergunta deste feriado, posso dizer de boca cheia e no sentido literário da palavra que conheci Neverland !!
Ps: with all my respect Michael!
