quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
O Modelo Brasileiro de Criação/Produção Animal de Equinos
São conhecidos no mundo os vinhos franceses, os presuntos espanhóis, as trufas francesas, produtos que podem custar milhares de dólares por poucos quilos ou litros, produtos que tem consumo certo e clientela garantida.
Então como brasileiro típico que sou sempre me perguntei porque então não fazem eles como nós ou os americanos que levam sua produção agrícola a patamares estratosféricos de produção, o lucro seria descomunal?
A grande questão que o “novo mundo” não entende muitas vezes é que existem produtos que simplesmente não se encaixam na lógica de produção em massa, precisam de tempo, esmero em sua produção, maturação e aperfeiçoamento. São produtos que valem pela qualidade, pela confiabilidade e não pelo peso, cada garrafa ou peça leva uma história, uma tradição.
E o que isso tem a ver com cavalos Mangalarga?
Vejo desde que comecei a criar muitas levas de criadores mas poucos, talvez menos de meia dúzia sufixos se firmou por mais de 1 ou 2 gerações, são “criadores” que levados pela lógica da produção e da especulação tratam cavalos como comodites e não como produtos finos que são, produtos que para agregarem valor de modo sustentável precisam ser maturados, aperfeiçoados e mantidos sob a égide de uma tradição e identidades fiéis.
Não são poucos os garanhões e doadoras que tem menos de 10% de seus produtos aproveitados pelos haras, levas e levas de embriões viram potros de descarte, criados apenas para sustentar as vãs esperanças especulativas do criador e uma indústria de assessores técnicos que insistem em dizer que esse é o caminho do sucesso. Leilões cada vez mais desfavoráveis aos criadores, suplementos cada vez mais caros prometendo cada vez mais precocidade e desempenho, mão de obra cada vez mais especializada, o céu é o limite... Haras nascem, haras morrem e a conta nunca fecha.
Há ainda outras implicações, em tratando-se de cavalos lidamos com seres vivos, não tomates ou laranjas que podem simplesmente ser descartados se não dão preço de venda, há um desrespeito imenso nesta lógica da produção em massa de cavalos que passa por vistas grossas de inúmeros veterinários envolvidos no sistema.
Enfim, penso que é passada a hora dos criadores deixarem a vaidade de lado e repensarem se realmente vale a pena continuarem seguindo está logica de produção em massa em seus haras. A quem serve esse sistema? Aos animais? Aos criadores? Penso que não serve a nenhum deles, portanto fica mais esta reflexão de um apaixonado pelo nosso cavalo de sela Brasileiro.
“A criação de alguns potros de tempos em tempos pode dar muito prazer.
Produzir uma safra anual de cavalos para vender pode dar muito lucro.Mas um “verdadeiro criador de cavalos”orienta sua criação por toda a vida na tentativa de criar ou preservar um cavalo “perfeito”; o prazer e o lucro são meramente recompensas.A satisfação real surge conforme ele observa progressos em seu objetivo... O processo relativamente simples de cruzar um garanhão famoso com éguas de alto custo e a venda de potros com altos lucros não constitui necessariamente um programa de criação.Em nenhum momento ele traz o respeito dos outros criadores . Um programa que se inicie com um plantel escolhido com base em traços específicos ao invés de preços,e que prossiga com base num sistema predeterminado, ao invés de preceitos de compradores volúveis, provará ser mais profundo.” William E. Jones
Genética e Criação de Cavalos
Luiz Alberto Patriota
Associado ABCCRM 07646
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