São Paulo, 5 de maio de 2008
Ao Sr. Presidente Mario Barbosa, á Diretoria e a quem mais interessar, da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo da Raça Mangalarga.
Ref: Sugestão, missão, propósitos e rumos da raça Mangalarga.
Resolvi detalhar-me em minha sugestão, pois penso tratar-se de tema extremamente relevante. Sou engenheiro agrônomo e recentemente me tornei sócio desta honrosa associação. Como amante e micro criador entusiasmado, venho acompanhando os percalços da nossa raça de perto a três anos e estudado o tema com dedicação. Pelo que vi, tivemos nestes últimos anos, avanços tremendos na morfologia, e estamos numa fase de resgate do andamento, muito bem sucedida, de modo que hoje podemos ver o Mangalarga como uma raça com “bio-tipo” e características realmente consolidadas. No entanto, apesar de toda maturidade da raça e toda estabilidade da economia brasileira, noto uma séria falta de mercado para comercialização de nossos cavalos e como conseqüência uma séria debandada de criadores para fora do negócio do cavalo. Nem todos têm o privilégio de poder criar cavalos como um “hobby”, e o que temos assistido é a permanência de, apenas, criadores que em ultima instancia não visam lucro ou sustentabilidade financeira em suas criações. Os leilões são poucos, com médias baixas e comercializações duvidosas, tenho acompanhando cavalos serem vendidos em dois ou três leilões no mesmo ano pelo mesmo proprietário e supostamente todas às vezes serem “arrematados”. Tentativas artificiais de elevação de preços não se sustentam no médio prazo (premissa econômica básica!), e o desespero para “desova” de produtos leva uma depreciação de plantéis, perda de credibilidade em relação aos criadores, e uma descrença crescente no que diz respeito a novos integrantes da raça. Falo por experiência própria.
Venho por meio desta por em pratica o lema: - “Uma associação tem o tamanho que os seus associados querem dar a ela”. E por isso venho dar a minha sugestão para mudar esse quadro.
Em estudo* pioneiro, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), através da Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), desvendaram a “cortina” dos palpites e mensuraram com bastante precisão, o tamanho e as características do agronegócio cavalo, no Brasil.
Veja alguns dados:
Resumo de contribuições dos diversos segmentos do agronegócio cavalo no Brasil
Segmento
Movimentação Econômica (R$)
Percentual(%)
Medicamentos Veterinários
54.142.630,20
0,74
Rações
53.440.000,00
0,73
Selaria
174.600.000,00
2,38
Casqueamento e Ferrageamento
143.640.000,00
1,96
Transporte de Eqüinos
86.400.000,00
1,18
Senar
976.000,00
0,01
Mídia
10.000.000,00
0,14
Militar
176.000.000,00
2,4
Lida
3.954.275.000,00
54%
Equoterapia
43.200.000,00
0,59
Hipismo
57.600.000,00
0,79
Pólo
1.684.400,00
0,02
Vaquejada
164.000.000,00
2,24
Turismo Eqüestre
21.000.000,00
0,29%
Escolas de Equitação
78.000.000,00
1,06
Jockey
359.500.000,00
4,91
Trote
1.000.000,00
0,01
Exposições e Eventos
146.100.000,00
1,99
Segmento "Consumidor"
1.654.400.000,00
22,6
Leilões
19.100.000,00
0,26
Exp. e Imp. De Cavalos Vivos
8.833.623,68
0,12
Carne
80.000.000,00
1,09
Curtume
15.000.000,00
0,2
Seguro
2.500.000,00
0,03
Veterinários
20.000.000,00
0,27
Total
7.325.391.653,88
100
Tabela Adaptada – Fonte: CEPEA 2006
Na página vinte, é mostrado que “ A análise dos dados entre 1990 e 2003(fig 6) indica que a tropa deslocou-se em direção as regiões Centro-Oeste e Norte, com destaque para o estado de Rondônia, demonstrando que a tropa nacional está passando por um processo de desconcentração.”
Não só desconcentração, mas o que tudo indica, já com esses primeiros dados, é que a tropa de cavalos acompanha diretamente as fronteiras de expansão pecuária do país.
Mais adiante (pág. 22) é mostrada uma correlação entre quantidade de rebanhos em 5558 municípios, em 2004(Fonte: IBGE-2006), e nota-se uma alta correlação entre o eqüino e o bovino (0,744; ao passo que eqüinos e outros gira entre -0,05 à 0,4). Mais ainda, o índice de correlação de crescimento dos dois rebanhos chega a 0,867; segundo este mesmo estudo.
Não bastasse, ainda é concluído pelo artigo: - “...existe uma sobre utilização dos animais de montaria(tabela 5), sugerindo que há potencial técnico para elevar a quantidade de eqüinos para lida”.
É notória a pujança do mundo dos rodeios (não avaliada neste estudo) e aguda, a expansão dos esportes com lida de gado. Não é a toa que a única associação que destoa em números superlativos, é a de criadores de Quarto - de - Milha, que levaram seu pequeno corredor de curtas distancias a se tornar um ícone para vaqueiros e “cowboys”.
No Brasil só há cavalos, onde há bois!
Á fora jóqueis, escolas hípicas, pólo, exercito e outras utilizações pouco apropriadas ao Mangalarga e pouco representativas, por mais incrível que pareça, no compito geral do complexo agronegócio cavalo, o que gera mercado e divisas para o negócio é a pecuária e tudo que gira em torno dela.
Nosso cavalo já nasceu vaqueiro, estamos insistindo em elitiza-lo, urbanizá-lo e estamos perdendo grande parte de suas características.
Versatilidade, rusticidade e principalmente, popularidade.
Competimos, atualmente, em um segmento, já restrito, (turismo rural e passeios) com raças muito mais tradicionais que a nossa, como o Puro Sangue Lusitano, e com muito mais apelo popular, como o Campolina ou o Mangalarga Marchador, e renegamos a segundo plano a grande vocação do nosso cavalo, a lida no campo e tudo que a relaciona.
Proponho um resgate destas antigas vocações.
Proponho uma reintrodução do nosso cavalo a cultura e ao dia-a-dia das fazendas e fazendeiros. Foi assim que o Mangalarga ganhou fama e é assim que ele foi idealizado a mais de um século.
Esta dada a sugestão!
Atenciosamente, Luiz Alberto Patriota
*Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo no Brasil CEPEA/Esalq – Brasília:CNA;MAPA, 2006
Ao Sr. Presidente Mario Barbosa, á Diretoria e a quem mais interessar, da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo da Raça Mangalarga.
Ref: Sugestão, missão, propósitos e rumos da raça Mangalarga.
Resolvi detalhar-me em minha sugestão, pois penso tratar-se de tema extremamente relevante. Sou engenheiro agrônomo e recentemente me tornei sócio desta honrosa associação. Como amante e micro criador entusiasmado, venho acompanhando os percalços da nossa raça de perto a três anos e estudado o tema com dedicação. Pelo que vi, tivemos nestes últimos anos, avanços tremendos na morfologia, e estamos numa fase de resgate do andamento, muito bem sucedida, de modo que hoje podemos ver o Mangalarga como uma raça com “bio-tipo” e características realmente consolidadas. No entanto, apesar de toda maturidade da raça e toda estabilidade da economia brasileira, noto uma séria falta de mercado para comercialização de nossos cavalos e como conseqüência uma séria debandada de criadores para fora do negócio do cavalo. Nem todos têm o privilégio de poder criar cavalos como um “hobby”, e o que temos assistido é a permanência de, apenas, criadores que em ultima instancia não visam lucro ou sustentabilidade financeira em suas criações. Os leilões são poucos, com médias baixas e comercializações duvidosas, tenho acompanhando cavalos serem vendidos em dois ou três leilões no mesmo ano pelo mesmo proprietário e supostamente todas às vezes serem “arrematados”. Tentativas artificiais de elevação de preços não se sustentam no médio prazo (premissa econômica básica!), e o desespero para “desova” de produtos leva uma depreciação de plantéis, perda de credibilidade em relação aos criadores, e uma descrença crescente no que diz respeito a novos integrantes da raça. Falo por experiência própria.
Venho por meio desta por em pratica o lema: - “Uma associação tem o tamanho que os seus associados querem dar a ela”. E por isso venho dar a minha sugestão para mudar esse quadro.
Em estudo* pioneiro, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), através da Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), desvendaram a “cortina” dos palpites e mensuraram com bastante precisão, o tamanho e as características do agronegócio cavalo, no Brasil.
Veja alguns dados:
Resumo de contribuições dos diversos segmentos do agronegócio cavalo no Brasil
Segmento
Movimentação Econômica (R$)
Percentual(%)
Medicamentos Veterinários
54.142.630,20
0,74
Rações
53.440.000,00
0,73
Selaria
174.600.000,00
2,38
Casqueamento e Ferrageamento
143.640.000,00
1,96
Transporte de Eqüinos
86.400.000,00
1,18
Senar
976.000,00
0,01
Mídia
10.000.000,00
0,14
Militar
176.000.000,00
2,4
Lida
3.954.275.000,00
54%
Equoterapia
43.200.000,00
0,59
Hipismo
57.600.000,00
0,79
Pólo
1.684.400,00
0,02
Vaquejada
164.000.000,00
2,24
Turismo Eqüestre
21.000.000,00
0,29%
Escolas de Equitação
78.000.000,00
1,06
Jockey
359.500.000,00
4,91
Trote
1.000.000,00
0,01
Exposições e Eventos
146.100.000,00
1,99
Segmento "Consumidor"
1.654.400.000,00
22,6
Leilões
19.100.000,00
0,26
Exp. e Imp. De Cavalos Vivos
8.833.623,68
0,12
Carne
80.000.000,00
1,09
Curtume
15.000.000,00
0,2
Seguro
2.500.000,00
0,03
Veterinários
20.000.000,00
0,27
Total
7.325.391.653,88
100
Tabela Adaptada – Fonte: CEPEA 2006
Na página vinte, é mostrado que “ A análise dos dados entre 1990 e 2003(fig 6) indica que a tropa deslocou-se em direção as regiões Centro-Oeste e Norte, com destaque para o estado de Rondônia, demonstrando que a tropa nacional está passando por um processo de desconcentração.”
Não só desconcentração, mas o que tudo indica, já com esses primeiros dados, é que a tropa de cavalos acompanha diretamente as fronteiras de expansão pecuária do país.
Mais adiante (pág. 22) é mostrada uma correlação entre quantidade de rebanhos em 5558 municípios, em 2004(Fonte: IBGE-2006), e nota-se uma alta correlação entre o eqüino e o bovino (0,744; ao passo que eqüinos e outros gira entre -0,05 à 0,4). Mais ainda, o índice de correlação de crescimento dos dois rebanhos chega a 0,867; segundo este mesmo estudo.
Não bastasse, ainda é concluído pelo artigo: - “...existe uma sobre utilização dos animais de montaria(tabela 5), sugerindo que há potencial técnico para elevar a quantidade de eqüinos para lida”.
É notória a pujança do mundo dos rodeios (não avaliada neste estudo) e aguda, a expansão dos esportes com lida de gado. Não é a toa que a única associação que destoa em números superlativos, é a de criadores de Quarto - de - Milha, que levaram seu pequeno corredor de curtas distancias a se tornar um ícone para vaqueiros e “cowboys”.
No Brasil só há cavalos, onde há bois!
Á fora jóqueis, escolas hípicas, pólo, exercito e outras utilizações pouco apropriadas ao Mangalarga e pouco representativas, por mais incrível que pareça, no compito geral do complexo agronegócio cavalo, o que gera mercado e divisas para o negócio é a pecuária e tudo que gira em torno dela.
Nosso cavalo já nasceu vaqueiro, estamos insistindo em elitiza-lo, urbanizá-lo e estamos perdendo grande parte de suas características.
Versatilidade, rusticidade e principalmente, popularidade.
Competimos, atualmente, em um segmento, já restrito, (turismo rural e passeios) com raças muito mais tradicionais que a nossa, como o Puro Sangue Lusitano, e com muito mais apelo popular, como o Campolina ou o Mangalarga Marchador, e renegamos a segundo plano a grande vocação do nosso cavalo, a lida no campo e tudo que a relaciona.
Proponho um resgate destas antigas vocações.
Proponho uma reintrodução do nosso cavalo a cultura e ao dia-a-dia das fazendas e fazendeiros. Foi assim que o Mangalarga ganhou fama e é assim que ele foi idealizado a mais de um século.
Esta dada a sugestão!
Atenciosamente, Luiz Alberto Patriota
*Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo no Brasil CEPEA/Esalq – Brasília:CNA;MAPA, 2006