quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Carta Sugestão ABCCRM


São Paulo, 5 de maio de 2008

Ao Sr. Presidente Mario Barbosa, á Diretoria e a quem mais interessar, da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo da Raça Mangalarga.

Ref: Sugestão, missão, propósitos e rumos da raça Mangalarga.

Resolvi detalhar-me em minha sugestão, pois penso tratar-se de tema extremamente relevante. Sou engenheiro agrônomo e recentemente me tornei sócio desta honrosa associação. Como amante e micro criador entusiasmado, venho acompanhando os percalços da nossa raça de perto a três anos e estudado o tema com dedicação. Pelo que vi, tivemos nestes últimos anos, avanços tremendos na morfologia, e estamos numa fase de resgate do andamento, muito bem sucedida, de modo que hoje podemos ver o Mangalarga como uma raça com “bio-tipo” e características realmente consolidadas. No entanto, apesar de toda maturidade da raça e toda estabilidade da economia brasileira, noto uma séria falta de mercado para comercialização de nossos cavalos e como conseqüência uma séria debandada de criadores para fora do negócio do cavalo. Nem todos têm o privilégio de poder criar cavalos como um “hobby”, e o que temos assistido é a permanência de, apenas, criadores que em ultima instancia não visam lucro ou sustentabilidade financeira em suas criações. Os leilões são poucos, com médias baixas e comercializações duvidosas, tenho acompanhando cavalos serem vendidos em dois ou três leilões no mesmo ano pelo mesmo proprietário e supostamente todas às vezes serem “arrematados”. Tentativas artificiais de elevação de preços não se sustentam no médio prazo (premissa econômica básica!), e o desespero para “desova” de produtos leva uma depreciação de plantéis, perda de credibilidade em relação aos criadores, e uma descrença crescente no que diz respeito a novos integrantes da raça. Falo por experiência própria.
Venho por meio desta por em pratica o lema: - “Uma associação tem o tamanho que os seus associados querem dar a ela”. E por isso venho dar a minha sugestão para mudar esse quadro.
Em estudo* pioneiro, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), através da Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), desvendaram a “cortina” dos palpites e mensuraram com bastante precisão, o tamanho e as características do agronegócio cavalo, no Brasil.
Veja alguns dados:
Resumo de contribuições dos diversos segmentos do agronegócio cavalo no Brasil
Segmento
Movimentação Econômica (R$)
Percentual(%)

Medicamentos Veterinários
54.142.630,20
0,74

Rações
53.440.000,00
0,73

Selaria
174.600.000,00
2,38

Casqueamento e Ferrageamento
143.640.000,00
1,96

Transporte de Eqüinos
86.400.000,00
1,18

Senar
976.000,00
0,01

Mídia
10.000.000,00
0,14

Militar
176.000.000,00
2,4

Lida
3.954.275.000,00
54%

Equoterapia
43.200.000,00
0,59

Hipismo
57.600.000,00
0,79

Pólo
1.684.400,00
0,02

Vaquejada
164.000.000,00
2,24

Turismo Eqüestre
21.000.000,00
0,29%

Escolas de Equitação
78.000.000,00
1,06

Jockey
359.500.000,00
4,91

Trote
1.000.000,00
0,01

Exposições e Eventos
146.100.000,00
1,99

Segmento "Consumidor"
1.654.400.000,00
22,6

Leilões
19.100.000,00
0,26

Exp. e Imp. De Cavalos Vivos
8.833.623,68
0,12

Carne
80.000.000,00
1,09

Curtume
15.000.000,00
0,2

Seguro
2.500.000,00
0,03

Veterinários
20.000.000,00
0,27

Total
7.325.391.653,88
100

Tabela Adaptada – Fonte: CEPEA 2006
Na página vinte, é mostrado que “ A análise dos dados entre 1990 e 2003(fig 6) indica que a tropa deslocou-se em direção as regiões Centro-Oeste e Norte, com destaque para o estado de Rondônia, demonstrando que a tropa nacional está passando por um processo de desconcentração.”
Não só desconcentração, mas o que tudo indica, já com esses primeiros dados, é que a tropa de cavalos acompanha diretamente as fronteiras de expansão pecuária do país.
Mais adiante (pág. 22) é mostrada uma correlação entre quantidade de rebanhos em 5558 municípios, em 2004(Fonte: IBGE-2006), e nota-se uma alta correlação entre o eqüino e o bovino (0,744; ao passo que eqüinos e outros gira entre -0,05 à 0,4). Mais ainda, o índice de correlação de crescimento dos dois rebanhos chega a 0,867; segundo este mesmo estudo.
Não bastasse, ainda é concluído pelo artigo: - “...existe uma sobre utilização dos animais de montaria(tabela 5), sugerindo que há potencial técnico para elevar a quantidade de eqüinos para lida”.
É notória a pujança do mundo dos rodeios (não avaliada neste estudo) e aguda, a expansão dos esportes com lida de gado. Não é a toa que a única associação que destoa em números superlativos, é a de criadores de Quarto - de - Milha, que levaram seu pequeno corredor de curtas distancias a se tornar um ícone para vaqueiros e “cowboys”.
No Brasil só há cavalos, onde há bois!
Á fora jóqueis, escolas hípicas, pólo, exercito e outras utilizações pouco apropriadas ao Mangalarga e pouco representativas, por mais incrível que pareça, no compito geral do complexo agronegócio cavalo, o que gera mercado e divisas para o negócio é a pecuária e tudo que gira em torno dela.
Nosso cavalo já nasceu vaqueiro, estamos insistindo em elitiza-lo, urbanizá-lo e estamos perdendo grande parte de suas características.
Versatilidade, rusticidade e principalmente, popularidade.
Competimos, atualmente, em um segmento, já restrito, (turismo rural e passeios) com raças muito mais tradicionais que a nossa, como o Puro Sangue Lusitano, e com muito mais apelo popular, como o Campolina ou o Mangalarga Marchador, e renegamos a segundo plano a grande vocação do nosso cavalo, a lida no campo e tudo que a relaciona.
Proponho um resgate destas antigas vocações.
Proponho uma reintrodução do nosso cavalo a cultura e ao dia-a-dia das fazendas e fazendeiros. Foi assim que o Mangalarga ganhou fama e é assim que ele foi idealizado a mais de um século.
Esta dada a sugestão!
Atenciosamente, Luiz Alberto Patriota

*Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo no Brasil CEPEA/Esalq – Brasília:CNA;MAPA, 2006

Um comentário:

PATRIOTA disse...

Obrigado Pedro, tem muita gente militando neste assunto a muito tempo...Já li artigos do sr. Plínio Junqueira da década de 70 alertando sobre os perigos da desvirtuação do projeto básico do Mangalarga. Continuamos na campanha!!! Que bom que gostou do blog, tentarei manter sempre atualizado. Abraço, Luiz