domingo, 12 de junho de 2011

Emílio Fontana da Horse no blog Mangalarga Patriota!!!

É com grande prazer e satisfação que a partir de hoje, publicaremos semanalmente crônicas do talentoso crônista da revista Horse Emílio Fontana. Boa Leitura!!!



Ricardo III

Ricardo III estava sozinho...um rei, sem ninguém a sua volta para socorre lo Clamava por um cavalo- Meu reino por um cavalo !! Meu reino por um cavalo!!Derrotado pelo duque de Richmond ali se encerrava a batalha de Bosworth.Ali se encerrava a vida de Ricardo III.
A vida de um rei, neste drama escrito por William Shakespeare no inicio do século XVII nos mostra o momento de desespero de um homem poderoso onde tudo que tem de nada lhe vale .Só um cavalo o tiraria daquela situação terrível ,onde abandonado,derrotado , de espírito acuado se encontrava.
O desespero de Ricardo nos mostra que esta merda de dinheiro, este vírus que nos contamina é imune a nossas auto defesas. Não é uma simples bactéria que qualquer antibiótico barato resolve. O vírus depende de nossas próprias defesas de nosso poder de imunidade. Mas este é mutante e não há anticorpos publicamente conhecidos que o eliminem.
Dos bens que podemos conquistar, o dinheiro é com certeza o mais fácil de ser alcançado.Ninguém ganha 1000 unidades de caráter no bingo, ninguém ganha 10 000 unidades de serenidade na loteria. Ninguém ganha sabedoria, harmonia interior, equilíbrio, numa operação financeira O vírus conhecido como “iwantmoreandmore “ a todos contamina, sem distinção de classes.
O pobre porque é pobre recebe o alvará provisório da ganância para por ele lutar indo até as ultimas conseqüências. O remediado quer ser rico e o rico sempre quer mais e mais numa busca frenética, interminável que o acaba jogando num inevitável vazio interior, num buraco de solidão. Resta, sozinho como Ricardo em Bosworth.
Por dinheiro se enfarta, se mente; se corrompe, se trai, se mata. Mas na hora” h”,na hora que a onça vem beber água, o dinheiro não nos serve de nada, não nos transporta a lugar nenhum,não nos tira a espada do pescoço.
Semana passada estive na casa de seu Tico Loco. Cinco quilômetros de terra, enfiada dentro de um canavial, mora Tico, seus dois irmãos deficientes e um burro velho que bebe garapa de cana, chamado Tchê.
Tico Loco é inexplicavelmente feliz, sempre sorrindo, sempre de bem com a vida,Assim como carrega nas costas os irmãos deficientes, carrega nos lábios um sorriso eterno. Às vezes dá uma parada na conversa... puxa o ar bem fundo... e solta devagariiinho num leve assobio.Acho que esta respirada é mágica !
Quando pego o rumo desta estrada e saio para os haras que atendo naquela direção, paro sempre na casa de Tico para tomar um café de coador feito no fogão a lenha. Tomo café e as vezes deixo um pacote de arroz ou de feijão para ajudar os irmãos surdos mudos ( não porque sou bonzinho,mas porque tenho vergonha) .
Tenho vergonha de mim mesmo por reclamar tanto da vida e portar comigo esta mascara carrancuda dos homens pseudo importantes e pseudo ocupados . Vergonha pela cara de bunda de tanto correr atrás de mais e mais, pelo vírus contaminado. Sinto vergonha do que sou. De tantas batalhas em que no quinto ato me faltou o cavalo.
A casa do Loco pra mim é um templo. Um templo onde a dificuldade não se sobrepõe a harmonia, a serenidade.
Um templo ao equilíbrio à força de caráter. Um templo ao DNA carregado de capacidade de se metamorfosear diante dos vírus resistentes.
O velho não dá gargalhadas isto é certo, mas seu rosto é iluminado e ele inexplicavelmente sorri,
Este sorriso me fascina, me intriga e me faz o reverenciar em seu altar.
Seguindo viagem, andei mais quilômetros e cheguei ao meu destino final, um haras de quarto de milha.
Tudo deserto.Estranho.Vejo um homem na varanda, é o proprietário, já de porre as 10 hs da manhã .os olhos marejados pela solidão, sentado na varanda sozinho,abandonado pela vida .
- Bom dia Dr Antonio! Vamos ver as éguas?
-Que éguas? (fala ele) vendi tudo! Vou plantar tudo em cana de açúcar. Sabe quanto estão pagando pelo alqueire? É mais negocio, fala tristemente.
-Os filhos me convenceram.
Dr Antonio, agora virou menino, chorou. Eu fiquei mudo, não disse nada, dei meia volta e fui embora.
Penso que a gente pode dar outro final ao Ricardo III que vive dentro de cada um de nós.
Antes que termine o quinto ato.

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