sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Marcha Trotada - A filha do Galope!

A seleção da raça Mangalarga começa muito antes da formação das associações de raça. É uma seleção que remonta a própria colonização do Brasil, ao estabelecimento da família Junqueira no Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo e que deu origem a duas raças de cavalos nacionais prima-irmãs e que até hoje lutam em firmar bases sólidas para suas identidades. Ninguém sabe de onde veio o gosto pela Marcha, mas esse acessório, hoje selo racial, sempre foi apreciado, selecionado e caminha junto a tropa Mangalarga desde suas origens. Foi em Minas que a raça aflorou, mas quando migrou para São Paulo, por volta de 1812, essa manada já testada na lida, criação campeira e na Marcha acaba por ganhar outros contornos. Contornos de cavalo Europeu! Em São Paulo, mais especificamente em Orlândia os “arquitetos” da raça Mangalarga, vulgarmente chamada de Paulista, empreenderam seleção notadamente voltada a um melhor GALOPE e MORFOLOGIA EQUILIBRADA, sempre mirando o modelo de cavalo de sela internacional. Nessa empreitada a infusão de sangues exóticos como PSI, Árabe, Sela Americano, dentre outros, e o uso nas caçadas de veado, foram de primeira importância. Mas eis que nessa busca por um enquadramento de morfologia e galope superiores, surge um subproduto, A Marcha Trotada! A Marcha Trotada é filha da seleção do galope e da morfologia! Foi com genial argucia que a família Junqueira, na figura de um de seus patriarcas paulistas, Coronel Chico Orlando, observou que os melhores animais de galope apresentavam um andamento característico, diferente de tudo que já tinham observado. Uma marcha diagonalizada, equilibrada, cadenciada, de espaduas soltas, cômoda e que favorecia sobremaneira o galope e a agilidade do animal quando exigido no esporte ou na lida de campo. Era a Marcha Trotada! Está aí o ouro do Mangalarga, sua Marcha Trotada, tecnicamente batizada e genialmente observada e selecionada daquela manada original mineira onde toda uma miscelânea de marchas era propagada sem maiores critérios que não fosse a maciez. O cavalo Colorado (1912) que ficou sendo então o modelo de cavalo Mangalarga, aquele que reunia em si todas as qualidades observadas em seus antecedentes e que só mostraram utilidade com a seleção funcional e morfológica paulista, foi o ápice, e não o começo de um trabalho de seleção que já durara cerca de 1 século em terras bandeirantes. Por fim, é importante ressaltar também que nenhuma outra raça no mundo possui tais características como temos no Mangalarga, sendo então, não só uma jabuticaba Brasileira, mas verdadeiramente uma pérola negra preciosa que devemos valorizar e manter fiel ao seu padrão racial original. Luiz Alberto Patriota Associado ABCCRM 07646
Sheik - Descendente de Colorado, notório por sua boa Marcha Trotada!

2 comentários:

Blog do Mangalarga VAT disse...

Parabéns Patriota, análise muito lúcida e desprovida de paixões.
Ela é muito útil para os dias atuais, em que, no meu entender, existe enorme confusão sobre o andamento característico de nossa raça, uns versando sobre antigamente nosso cavalo ser "trotão", outros que "agora a raça marcha". Oras, nem um, nem outro! Rótulos e modismos ou "marketeísmos" não são o foco de minhas observações. Como muito didaticamente explicado por você, nosso andamento foi fruto de criterioso e incansável trabalho de seleção, por criadores abnegados e conhecedoros de cavalos. Trabalho esse desenvolvido para obter-se animais com características de andar o mais apropriado possível para as necessidades da época: a lida no campo nas grandes e planas pradarias paulistas e a caça ao veado, para a qual o galope era fundamental. Como bem e corretamente inferido por você, do galope veio a marcha trotada, andamento único e exclusivo em termos mundiais, de muito conforto e amplitude, enérgico e atlético. Para o galope, como aprendi pelos criadores "antigos" é preciso ter "empurrador" e portanto a marcha trotada normalmente se caracteriza pelo andamento lastreado pelos posteriores. Um acontecimento genético SEM precedentes em termos mundiais!!!
Da visão destes criadores Junqueiras, tivemos por décadas o aprimoramento de nossa marcha trotada, resultando em um padrão ímpar e de extrema qualidade e conforto de andar. As linhagens base e pilares da raça estão repletas de exemplos desta característica única, passando de geração em geração seus genes da "marcha trotada" adiante.
É muito triste observar os comentários comuns de hoje em dia referindo que "hoje" nosso cavalo anda muito melhor, ou "marcha", como querem rotular. De certa forma desrespeitam o trabalho de todos os que já contribuíram para a raça e que continuam a contribuir. Não se pode generalizar um ou outro exemplar que pode ter sido mais áspero como tendo sido o padrão de andar do passado. Assim como não se pode endeusar exemplares que eram mais "marchados", como é de se esperar como decorrência de nossa base genética.
Em exposições atuais, frequentemente temos visto um elevado numero de exemplares cuja tração é de anteriores, ou seja, andam na "mão", contrariamente ao cavalo observado e idealizado pelos fundadores da raça, que se pautam pela tração nos "empurradores" (ou posteriores), dinâmica esta que permite ao nosso cavalo desenvolver um ótimo galope. Desafortunadamente também, o galope clássico ou mesmo o rural, é muito pouco exigido ou requerido em nossas provas oficiais, levando a um maior número de exemplares a se posicionarem e andarem nas "mãos", por decorrência óbvia, pois este é o que "ganha" nas pistas.
Considero muitíssimo preocupante para o futuro da raça, a médio e longo prazo, esta linha de raciocínio, pois se a seleção for mais e mais baseada em exemplares com séria falta de tração de posteriores, a tendência seria a quase extinção da marcha trotada "per se".
Sei que esta opinião receberá as críticas à utilização do termo marcha trotada, mas as expressões estão aí para serem trabalhadas mercadologicamente, por quem é do ramo, explicando e elevando-o ao seu correto patamar e não um mero "pega mal" mercadologicamente. Deixa esse cacoete para os que não tiveram capacidade para desenvolver uma raça diferenciada, morfologica e dinamicamente falando.
Como bem observado por você, ...está aí o ouro do mangalarga..... O verdadeiro ouro em minha opinão.
Espero que não nos levem ao "ouro de tolo" se assim continuarmos...
Grande abraço!

PATRIOTA disse...

Amigo VAT, obrigado pelos comentários!
Sigamos buscando um cavalo COMPLETO e de Marcha Trotada padrão, como fizeram os Patriarcas. Viva o Mangalarga, o cavalo de sela Brasileiro!!!