quinta-feira, 25 de maio de 2017

Beleza Zootécnica e o Desafio Moderno da Seleção Funcional

Beleza Zootécnica e o Desafio Moderno da Seleção Funcional ______________ "A beleza é um valor tão importante quanto a verdade e a bondade" Roger Scruton ______________ Admitiam os antigos filósofos gregos, é belo aquilo que nos eleva a perfeição, portanto é belo o que é bom. Na zootecnia o conceito de beleza zootécnica não é muito diferente. Avanços enormes na raça Mangalarga foram feitos em termos estéticos e na marcha trotada típica da raça, no entanto ainda precisamos avançar bastante nas questões de temperamento, rusticidade, resistência e mesmo no galope, “pai da marcha trotada”, o que se pode traduzir de maneira resumida como Funcionalidade ou Usabilidade dentro do padrão racial. Quem usa um cavalo na prática sabe que características como bom temperamento de sela, equilíbrio e resistência acabam sendo muito mais relevantes do que qualquer outro quesito. Saúde (rusticidade), temperamento e resistência definem um bom cavalo. Caracteres morfológicos e andamentos definem as raças e estes só existem quando exacerbam ou aprimoram aquelas características básicas, deste modo acabam sendo indissociáveis. Não existe beleza inútil! Alvo de estudo da ezoognósia, ramo da zootecnia que estuda o exterior dos animais e como ele se correlaciona com suas funções e sua fisiologia, conceitua-se a beleza zootécnica como sendo o que é bom, aquilo que funciona para uma determinada atividade ou função e enquadra-se esses caracteres dentro de proporções gerais e parâmetros desejáveis. O problema é quando as generalizações começam. Estudar proporções mecânicas ou tipos morfológicos e dentro destes parâmetros generalizar de modo dedutivo que um animal é melhor do que o outro não funciona. Existe muito mais em um animal ou cavalo especificamente do que o que os olhos podem ver. Os parâmetros são indicativos, mas só na prática é que pode se avaliar o que é melhor do contrário poderíamos formar plantéis inteiros cruzando e selecionando apenas fotografias!!! Por exemplo: Um Úbere grande é indicativo de boa produção leiteira, mas nem por isso a vaca que tem maior úbere sempre produz mais leite. Um cavalo grande tende a saltar mais alto que um pequeno cavalo, no entanto, nem sempre o maior cavalo é o que salta mais alto. Muito hoje em dia na raça Mangalarga discute-se sobre beleza, proporções, porte, peso, etc, visando uma raça compatível com seu projeto zootécnico, funcional, rustica, e de bons andamentos e muito se fala em como compatibilizar tais parâmetros, amplamente já discutidos e definidos no padrão racial e mesmo décadas antes dele, dentro dos julgamentos morfológicos funcionais das expos. Essa compatibilização é extremamente limitada. Só obteremos as respostas certas se fizermos as perguntas corretas! As pistas de julgamento e os juízes só podem nos responder aquilo que perguntamos a eles. E estamos perguntando apenas o seguinte: Qual cavalo, nessas condições, se enquadra melhor na cartilha da raça preconizada junto a associação? Só.... Falar que um animal que passou por essa sabatina é mais rustico, mais resistente, tem melhor temperamento, portanto é mais funcional que este ou aquele é pura dedução intelectual, sem base concreta especifica para estas qualidades. E são qualidades inerentes e importantíssimas a raça Mangalarga em sua funcionalidade básica de cavalo de sela de um pais tropical e continental como o Brasil. Qualquer tentativa artificial de imposição de score corporal, modo de manejo, equitação, acaba caído por terra, primeiramente por ser mais do mesmo, deduções e generalizações de cartilha e depois por que naturalmente dada uma condição de competição os agentes participantes vão usar de todos os meios cabíveis e possíveis para chegar em melhor condição naquela competição e estritamente para ela, não importando nada que não seja apenas o relevante para vence-la. De modo que sem as “perguntas” ou MEIOS DE SELEÇÃO corretos nunca chegaremos a seleção eficaz e completa na raça e, portanto, o velho Colorado, ápice da seleção e modelo da raça nascido em 1912 vai ficando para trás somente como uma lembrança.

4 comentários:

Unknown disse...

Excelentes as suas colocações. Existe muito "achismo" e pouca pesquisa. Dentro das leis de biofísica e biomecânica;fisiologia do exercício; treinamento, condicionamento físico e correta nutrição, como se enquadra o Mangalarga? Será que estamos fazendo melhoramento genético ou apenas seleção fenotípica? E os avanços; será que estão chegando a todo o plantel? Creio que minhas dúvidas coincidem com as suas. Abraço!

PATRIOTA disse...

Ana o que quis demonstrar com esse artigo é que não há essa dicotomia entre beleza e função. Veja o cavalo Crioulo que está cada vez mais funcional e bonito dentro de seu padrão racial.
O que impede o avanço da Mangalarga nessa questão funcional é a falta de uma ferramenta de seleção adequada.

Unknown disse...

Exatamente! Já houve uma proposta de criar um sistema de avaliação linear, que diminuiria consideravelmente a influência pessoal do avaliador. Infelizmente não aceitaram....

PATRIOTA disse...

Não acho que o problema, no âmago, sejam os avaliadores. Temos bons juizes.
O problema é que a avaliação é muito limitada para o que precisamos selecionar em um Mangalarga. Antigamente quando os criadores eram fazendeiros e essa tropa era testada em casa a coisa funcionava. Hoje em dia só temos a pista e ela não basta para nossa raça... É o meio de seleção e não o juiz que é o problema. Se fosse um robô os resultados seriam os mesmos. Estamos querendo selecionar mangalarga em pista de areia e em 40 minutos...
Compare com o Freio de Ouro dos Crioulos e vai ver porque cavalo bom(para os padrões raciais deles) lá é mato...